"Eduquemos as crianças, e não será necessário castigar os homens" - Pitágoras

terça-feira, 31 de maio de 2016

“ Nenhum professor quer ajudar o meu filho com deficiência!”




 Hoje vamos dar uma palavrinha sobre profissionais da Educação. Mais especificamente, sobre professores – independente do nível de ensino que lecionam - no ensino regular.


      Você com certeza já teve que se deparar com muitas respostas “não”, em vários tons de fala, ao tentar matricular seu filho em uma escola nova. Ou tentar argumentar sobre as mudanças que seu filho precisa dentro do colégio onde ele estuda, e que foram sem sucesso e te deixaram com muita raiva ou decepcionado/a.


O problema é que colégios não querem saber de Inclusão de jeito nenhum.


Opa!
Reavalie essa frase...


Vamos pensar:


Sim, é verdade que a tendência atual é ver no nosso país muitas negativas acerca da inclusão, traduzidas em vários argumentos do tipo:


·         “ não tenho formação pra isso”;
·         “ não é problema meu”;
·         “ é muito complicado”;
·         “ esses alunos não deveriam estar estudando (aqui)” ;
·         ” ninguém do meu colégio faz esse trabalho”;
·         “ nunca me pediram isso”;
·         “ eu não sei como fazer”;
·         “ eu não quero e não preciso aprender sobre inclusão”,


dentre outras variações.
 Como citei no começo desse texto, viemos falar dos professores .


Por que falei para você reavaliar a frase em laranja?


Porque, sejamos justos: não são todos eles que falam essas frases. Não são todos os que concordam com essas negativas. Assim como outros profissionais, existem professores de todos os perfis. Vamos a eles:


1.       Professor “Liga o botão” – é aquele professor que apesar de saber que inclusão está vindo pra ficar, se nega a aprender quaisquer coisas acerca do assunto. Diz a todos que não quer saber e que não é obrigado, porque já leciona e é obrigado a aperfeiçoar o seu conteúdo do dia a dia. Alega que “não é problema dele” e que em sua formação não teve nenhuma matéria ou (pouquíssima – um semestre apenas) sobre alunos com deficiência. Acha que inclusão já é feita aceitando matrícula, sendo bonzinho e compreensivo com os alunos, e enxergando a socialização como sinônimo de inclusão. Não quer nem começar a conversar sobre o assunto, arriscando-se a vê-lo irritado;


 2.       Professor “Pólo Negativo” – É aquele professor que sabe da importância da inclusão, mas que vê tudo pro lado negativo. Que é algo impossível, difícil, mesmo acreditando que os alunos mereçam um trabalho aperfeiçoado. Já viu excelentes exemplos na internet, mas argumenta “ah, lá dá certo. Aqui, isso nunca vai dar. Nem adianta começar”;


 3.       Professor “Gasparzinho” -  É o que faz o trabalho de inclusão sozinho, no colégio, pois não encontra parceiros que concordem com ele. Ele adapta aulas, conteúdos e avaliações sem contar e de uma forma sutil, que poucos ou quase ninguém perceba que isso está acontecendo, pois pode ser mal visto -> (“esse aí quer aparecer / “quer nos impor uma mudança impossível” / “quer me obrigar a mudar algo que já faço há 30 anos”/ ”está se achando com esse assunto” / “quer virar Diretor” / “quer insistir numa coisa que não adianta, pois esses alunos não vão pro ENEM”  etc);


 4.       Professor “Mártir” – Esse profissional é como o anterior, porém ao invés de se silenciar, leva argumentos, textos, imagens, novas ideias aos outros colegas de trabalho sempre que surge uma oportunidade. Esse tipo é o mais raro, porque com o tempo pode* começar a ouvir comentários de ameaça de demissão da Direção da escola  ou boicote ao seu trabalho,ser taxado como insuportável ou insistente, e por causa disso, começa a diminuir seu foco na educação inclusiva – ou ele mesmo por sua conta pede demissão de onde está, por não encontrar meios de trabalhar com motivação e com justiça;


 5.       Professor “Laissez-Faire** ” – É o que ouve a primeira negativa e se conforma com a situação. Sente vontade de desabafar (chateado) aos pais de alunos que quer mudar, mas que infelizmente se sente coibido ou impedido de fazer quaisquer mudanças, por medo de demissão ou de criar um clima ruim no ambiente de trabalho. Então, interrompe tudo o que vinha lendo e aprendendo sobre inclusão, suspira e deixa o assunto pra lá, mesmo contra sua vontade;


 6.       Professor “Aladim” – É aquele que deseja intensamente ver mudanças, mas como é a primeira vez que recebe alunos com deficiência na sua turma, e não teve nada de inclusão em sua graduação, se sente perdido e não saber como começar. E não encontra ninguém que o ajude dentro do colégio. Quando vê que o colégio não traz até ele nenhum curso de formação, nenhum incentivo a se reunir para debater o assunto inclusão, acha que não precisa então se mexer “porque era o colégio que tinha que me dar cursos extras ou um norte, para se fazer esse trabalho.” Então ele não faz nada, apesar de achar que as mudanças deveriam acontecer. Ele fica no aguardo que outros comecem essas mudanças, e não se vê na posição desse agente transformador.


 Cabe outra observação, que particularmente ouvi falar pouco no universo virtual e em depoimentos particulares: 

       Acontece da Coordenação desejar fazer um trabalho diferenciado, mas ter a maioria dos professores contra isso. Logo, a Direção, apesar de também desejar essa mudança, dá de ombros e diz “é, a maioria deles não concorda com isso. Então vamos ter que deixar como está. Fazer o quê? ”


 Caro pai, mãe e/ou responsável: tudo isso acontece fora das suas vistas, ou seja – nos bastidores do colégio onde seu filho estuda. Você provavelmente não percebe, fica sabendo ou sabe dessas situações, pois quando vai até lá para saber das condições que seu filho tem direito, vai apenas até a Direção para conversar. O panorama que é mostrado a você nesse contato com o Diretor é apenas uma ponta do iceberg. Poucos ou nenhum professor vai te contar em qual definição acima que ele se encaixa, por medo de demissão , principal e provavelmente. Todos ou grande maioria serão unânimes em te dizer: “aqui não se faz esse trabalho” porque no final das contas, a hierarquia superior (Direção) é que vai dar o veredicto final a todos eles: “aqui não se faz esse trabalho” e eles terão que repetir exatamente essa afirmação para  você, numa reunião – sentindo total desprezo pela atitude (se ele for a favor da inclusão) ou alívio (se for contra).


Portanto, não é todo mundo que (entre aspas, reforço! ) “está contra a permanência do seu filho no colégio” ou “que tem desprezo pela inclusão”. Sejamos justos e não julguemos os profissionais, sem realmente conhecê-los. Não é todo mundo que está no mesmo barco.



** OBSERVAÇÃO IMPORTANTE**

O post foi escrito em de 31 de maio/2016 , e no dia 07 de junho/2016, eis que me deparo com esse depoimento marcante (retirado de uma comunidade do Facebook, ligado à pessoas com autismo ) de uma professora de ensino regular .O que só me prova,mais uma vez, que inclusão é possível SIM. Depende só da pessoa querer,ter boa vontade e comprometimento.





   *não significa que seja uma regra, pois existem os que são bem sucedidos. Porém esse professor pode ser o único que faz esse trabalho, no meio de mais deles no mesmo colégio. Então, o seu filho pode estar sendo atendido em uma disciplina apenas quando se trata de inclusão de verdade. 


      ** expressão francesa que significa: “deixai fazer, deixai passar”





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