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quarta-feira, 16 de março de 2016

Por que devemos estudar Arte?




Por que devemos estudar Arte?

Retirado deste site

A Arte não é algo que te dá respostas definitivas ou até mesmo lógicas sobre um assunto específico. Tão pouco a Arte é prática e objetiva na maioria das vezes, servindo a algum propósito bem claro.


Então ficam as perguntas: Por quê devemos estudar a Arte? Pra quê serve o estudo de artistas do passado que, aparentemente, não têm nada a ver com nossos dias atuais?


Será mesmo que a arte tem “data de validade” e, fora de seu contexto, perde o significado e sua força de expressão?



Primeiros trabalhos de Picasso, enquanto estudava entre Madrid e Barcelona



Pablo Picasso, um dos maiores artistas contemporâneos, é um ótimo exemplo do quão importante é conhecer e estudar conceitos clássicos no início da nossa caminhada artística. Picasso nasceu em Malaga, na Espanha, no ano de 1881, tendo estudado arte em Madrid e depois Barcelona, entre os anos de 1897 e 1900. Durante esse período, suas pinturas e trabalhos refletiam seus estudos, buscando entender o desenho, a anatomia e as cores, entre outros fundamentos. Seus trabalhos tinham características bem realistas porque Picasso estava estudando, procurando entender o mundo primeiramente através da representação direta daquilo que ele observava.


Mas Picasso não ficou conhecido por esses trabalhos, tanto que poucas pessoas conhecem esse seu lado. O artista foi realmente consagrado pelas obras de seu período Cubista, quando ele passou a trabalhar com formas e objetos de uma maneira diferente, não mais se baseando em uma observação direta, mas uma observação subjetiva.


Em 2007, o site Newsweek publicou um artigo que considerava a pintura de Picasso Les Demoiselles d’Avignon como sendo a obra de arte mais influente dos últimos 100 anos (e isso não é dizer pouca coisa).


Les Demoiselles D’Avignon, Pablo Picasso, 1907

Essa pintura foi um ponto de virada para o artista, significando também um grande salto do que estava sendo produzido pelos impressionistas como Monet para um estilo muito mais abstrato e ousado, buscando influências inclusive da Arte Africana. Em palavras do próprio Picasso com relação ao Cubismo:
“nos nossos assuntos, nós mantemos a alegria da descoberta, o prazer do inesperado; nosso assunto em si precisa ser interessante”.


Ainda sobre a mudança de estilos que aconteceu com o artista, ele diz:


“ Variação não significa evolução. Se um artista varia sua forma de expressão, significa simplesmente que ele mudou sua maneira de pensar (…)”


Por isso, ao contrário do que muitas pessoas acreditam, Picasso não produzia artes cubistas porque ele não sabia desenhar ou pintar, mas sim porque ele ESCOLHEU criar dessa forma.


E ter isso em mente é importantíssimo! Precisamos estudar pra superarmos nossas limitações. Só então é interessante buscarmos uma forma única de nos expressarmos artisticamente, já que teremos o conhecimento necessário para nos comunicarmos visualmente.


Sem estudo, nos tornamos artistas muito superficiais, podendo até ter idéias boas, mas sem os meios necessários para efetivamente colocar essas idéias no papel.


Por fim, Picasso ainda responde à pergunta sobre a “data de validade” da Arte:


“Para mim, não há passado ou futuro na Arte. Se uma obra de Arte não pode viver sempre no presente, ela não pode ser considerada como Arte. A arte dos gregos, egípcios e os grandes pintores que viveram em outros tempos, não é uma Arte do passado. Talvez esteja inclusive muito mais viva hoje do que sempre esteve.”


Toda a Arte que foi produzida em períodos anteriores, como o renascimento ou a idade média, também nos ajuda a descobrir como eram os costumes daquele povo e todos os símbolos que eles usavam para representar temas religiosos, sociais ou políticos. Entendendo obras de Arte, entendemos mais sobre a sociedade que as produziu.


O Casal Arnolfini, Jan van Eyck, 1434

Vejamos o exemplo da pintura O Casal Arnolfini, de Jan van Eyck, e o que ela tem a nos ensinar sobre alguns dos costumes e simbolismos da época.


O quadro retrata o casamento entre o comerciante Giovanni Arnolfini, conhecido burguês de sua época, e sua esposa Giovanna Cenami. Vários elementos que compõe esta pintura estão repletos de significados.



Os sapatos do marido, de madeira e no canto inferior esquerdo da tela, estão mais próximos da saída (que identificamos por conta da própria iluminação externa vinda desse lado), enquanto os sapatos da esposa, vermelhos e mais próximos do centro do quadro, estão localizados mais no interior do quarto. Isso mostrava os papeis desempenhados naquele casamento: enquanto o marido se dispunha a trabalhar fora, a mulher estava encarregada dos afazeres domésticos.



As próprias cores utilizadas também nos dizem muito: o vermelho dos lençóis está relacionado à intensidade do amor do casal. O verde do vestido de Giovanna representa o ideal de fertilidade feminino, sendo reforçado por sua pose e pela forma como ela segura seu vestido, indicando os desejos de uma futura gravidez.


Um último detalhe interessante é a inscrição na parede ao fundo: Johannes de Eyck fuit hic 1434 (ou Jan van Eyc esteve aqui). Essa inscrição, aliada ao fato do reflexo do artista estar visível no espelho ao fundo, indicam que, possivelmente, esta pintura também serviria como um contrato válido de casamento, sendo que o artista seria uma testemunha daquele evento.


E este é só um exemplo de como existem várias camadas de entendimento em diversos tipos de obras de arte, basta sabermos “ler” tudo isso.




O grande problema é que, hoje em dia, nós não queremos ir além. Fica difícil filtrarmos aquilo que é relevante do que não é, com toda a quantidade de informação que chega até nós, e é muito difícil valorizar o conhecimento que está sempre à nossa disposição.

Vocês devem conhecer Auguste Rodin pela sua escultura mais famosa, O Pensador, de 1902.


O Pensador, Auguste Rodin, 1902



Nascido em 1840, Rodin, quando jovem, recusou estudar na prestigiada École des Beaux-Arts em Paris, já que ele procurava fugir de toda a rigidez acadêmica e imposições Neoclássicas da época, que, enraizadas muito no passado, ditavam aquilo que você deveria produzir para ser bem sucedido (basicamente produzindo cenas históricas, religiosas e mitológicas).


Ao invés disso, Rodin escolheu o caminho mais longo. Buscou trabalhar como aprendiz no estúdio do escultor Albert-Ernest Carrier-Belleuse, demorando muito mais para se tornar conhecido do que se simplesmente tivesse estudado na academia tradicional.


Mas Rodin NÃO desprezava o estudo clássico da Arte, apesar de ter recusado ir para uma das melhores escolas de arte do mundo. E isso não sou eu quem estou dizendo. O próprio Rodin escreveu um Testamento para Jovens Artistasdeixando bem clara a sua opinião sobre o assunto:


“Jovens que querem se tornar celebrantes da beleza, talvez vocês se agradem de encontrar aqui o resumo de uma longa experiência 

Amai com devoção os mestres que vos precederam.

Inclinem-se diante de Fídias e de Michelangelo. Admirai a divina alegria de um, a melancolia selvagem do outro. A admiração é o vinho do espírito nobre.

Mas cuidado para não imitarem aqueles que vieram antes .

Enquanto devemos prestar muita atenção nos resultados, precisamos entender a essência daquilo que é eternamente frutífero: o amor pela natureza e pela verdade.”


O artista reconhece e estuda o trabalho daqueles que vieram antes dele, como podemos ver em outra passagem desse testamento:


“Pintores, observem a realidade, criem profundidade e perspectiva e olhem as pinturas de Rafael e como esse mestre, quando mostrando a visão frontal de uma mulher, faz com que seu corpo se veja obliquamente, criando então a ilusão de três dimensões.”


O seu problema maior com relação à École des Beaux-Arts (e talvez o nosso problema com várias faculdades e cursos por aí) era a falta de sinceridade e autenticidade no trabalho dos artistas e professores, se prendendo muito ao passado sem conseguirem criar nada verdadeiro. A isso, Rodin escreve :


“A arte começa primeiramente e principalmente a partir de verdade interior. Todas as suas formas, todas as cores, precisam expressar sentimentos (…)Mestres são aqueles que observam com seus próprios olhos aquilo que o mundo já viu, percebendo a beleza em todas as coisas.”


Devemos criar de acordo com nossa visão do mundo, mas sempre tendo conhecimento das técnicas e conceitos da arte pra podermos então ESCOLHER se vamos utilizá-las ou não, de acordo com as nossas intenções.


Sejamos verdadeiros.



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