"Eduquemos as crianças, e não será necessário castigar os homens" - Pitágoras

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Não tem Artes na grade curricular do colégio? Sem problemas!

ANA MAE INFORMA: A CRISE EUROPEIA E A ARTE/EDUCAÇÃO

Retirado deste site


Gostei muito de uma entrevista do poeta Francisco Bosco
novo Diretor da Funarte. Quando lhe perguntaram o que 
se pode fazer pela Cultura sem dinheiro ele respondeu:  
"Questões relativas a arte e educação, como o ensino 
das artes nas escolas ou os processos formativos, 
não custam dinheiro. Custam vontade e determinação 
política".


Com quase 60 anos  de trabalho como arte/educadora 
em todos os níveis educacionais, da educação infantil 
aos pós-doutorados sou mais realista. Precisamos sim, 
de dinheiro para Arte/Educação mas de muito pouco 
em relação a outras áreas da Arte e da Cultura.



Estive na Espanha agora em julho (2015) e testemunhei 
uma reação muito interessante de pais de crianças contra 
a ausência de Arte nas escolas provocada pela crise. Eles 
são de uma geração que teve arte incluída em sua educação 
e a querem para seus filhos. Observei um workshop de uma arte/educadora excepcional cujo trabalho acompanho desde 
que ela era aluna de doutorado da Complutense em Madri. 
Seu nome é Rita Noguera.


A escola em que trabalhava fechou. Ela se apoia em 
seu trabalho na Pedagogia Sistêmica e na Abordagem 
Triangular. Atualmente desempregada como muitos 
amigos meus em Madri, é frequentemente convidada 
por mães que reúnem crianças em sua casa para 
fazerem Arte, já que não tem Arte na escola. Esta 
moda começou em aniversários. Em vez de comemorar 
os aniversários de seus filhos em estereotipados e 
caros bufês infantis, os pais conscientes da necessidade 
da Arte começaram a convidar arte/educadores para 
planejar e executar atividades artísticas para as crianças. 
Agora nem precisa ser aniversário.


Fotografia: Ana Lia Barbosa Lemos/Rita Noguera 


Acompanhei Rita em um workshop encomendado 
por uma jovem bailarina cubana, mãe de uma 
criança de quatro anos  em Valdemoro, cidade  
perto de Madri. Ela reuniu em sua casa 11 crianças 
de 2 a 7 anos e seus pais (um dos bons princípios 
da Pedagogia Sistêmica é incluir os pais nas 
atividades das crianças), fez um a mesa de lanche 
com muita fruta e bolos mas o pagamento da 
professora foi dividido entre as famílias participantes. 
O dia estava escaldante e brilhante, o condomínio 
era de belas casa mas não luxuosas, chegamos 
uma hora antes.


Fotografia: Ana Lia Barbosa Lemos/Rita Noguera



O espaço foi cuidadosamente preparado em três 
setores. No primeiro setor, a sala, Rita reuniu 
todos sentados no chão, pais, mães sem sapatos 
e crianças também sem camisa, leu uma história 
de travessura de crianças pintando o corpo com 
tinta e mostrou várias imagens de pintura corporal, 
de diferentes civilizações, bem apresentadas em 
papel rígido. Rita tem o talento de prender a atenção 
das crianças. A conversa se desenrolou com  
perguntas e comentários feitos só pelas crianças. 
Os pais pareciam tímidos.



Ainda na sala, Rita propôs que com lápis de cera 
bem macio as crianças começassem a desenhar 
em seus corpos. Os pais começaram a participar. 
Passamos para o segundo setor, um alpendre com 
vista para o gramado e as tintas e pincéis foram 
distribuídas. De início cada um com uma cor 
diferente depois começaram a trocar entre eles 
as cores e a pintarem também os pais e as mães 
que mergulharam na ação.


Fotografia: Ana Lia Barbosa Lemos/Rita Noguera

Fotografia: Ana Lia Barbosa Lemos/Rita Noguera


A experimentação durou uma hora e meia, até que, 
esgotadas as tintas que haviam sido preparadas 
com sabonete líquido para evitar adesão à pele, 
passamos para o último espaço, o gramado 
preparado com baldes e mangueiras.


Fotografia: Ana Lia Barbosa Lemos/Rita Noguera


Depois de limpos e enxutos devoraram os doces 
e as frutas. Os comentários finais foram muito 
entusiasmados e alimentados pelas constantes 
afirmações de:


- Quero mais.


Costuma-se dizer que em tempos de crise só 
os restaurantes permanecem ativos pois todos 
precisamos comer. O que vi na Espanha neste 
verão de 2015 é que pais conscientes das funções 
da Arte na Educação mesmo em tempo de crise, 
quando a Arte,  a proteína  da Educação, é a primeira 
coisa a ser cortada das escolas, providenciam 
experiências de atividades artísticas para seus 
filhos.


Mandei este texto para Rita antes de publica-lo 
e ela me sugeriu lembrar que neste momento de 
crise psicólogos inteligentes recomendam esta 
prática de esporádicos workshops artísticos para 
crianças, como é o caso de Yassodára S. Machado 
e Júlia Durruty, psicóloga da primeira infância que 
é amiga de Rita.



Ana Mae Barbosaespecial para AEP Online

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