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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A geração digital não sabe navegar * Revista Época

A geração digital não sabe navegar

 Estudos recentes sugerem que os jovens não sabem pesquisar na
 internet. Como as escolas podem ajudá-los a explorar essa fonte de
 informação

 BRUNO FERRARI - Revista Época

http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2011/11/geracao-digital-nao-sabe-navegar.html

 No início dos anos 1990, uma coleção de enciclopédias tinha o mesmo
 valor educacional que um microcomputador tem hoje em dia - eram ótimas
 ferramentas de pesquisa para os estudantes. Para quem tem menos de 20
 anos, pode parecer incompreensível. Como uma coleção de livros de capa
 dura, grandes, pesados e difíceis de manusear, pode ser tão eficaz
 quanto os programas de busca da internet, que nos colocam a dois
 cliques de qualquer resposta? A geração que nasceu depois do
 surgimento da internet tem a sua disposição o maior volume de
 informação da história. Mas novos estudos sugerem que a intimidade dos
 jovens com o mundo digital não garante que eles sejam capazes de
 encontrar o que precisam na internet.

 Uma pesquisa da Universidade de Charleston, nos Estados Unidos, mostra
 que a geração digital não sabe pesquisar. Acostumados com a comodidade
 oferecida por mecanismos de busca como o Google, eles confiam demais
 na informação fácil oferecida por esses serviços. O estudo mostrou que
 os estudantes usam sempre os primeiros resultados que aparecem após
 uma busca, sem se importar com sua procedência. No estudo, os
 pesquisadores pediram a um grupo de universitários que respondesse a
 algumas perguntas com a ajuda da internet. Mas fizeram uma pegadinha:
 fontes de informação que não apareceriam no topo da lista de respostas
 do Google foram apresentadas propositalmente como primeira opção. Os
 estudantes nem notaram a troca: usaram as primeiras respostas
 acriticamente. Outro estudo, realizado pela Universidade Northwestern,
 nos Estados Unidos, pedia que 102 adolescentes que estavam se formando
 no ensino médio buscassem termos diversos em sites de pesquisa
 on-line. Todos trouxeram os resultados, mas nenhum soube informar
 quais eram os sites usados para obter as respostas: se veio da
 internet, já estava bom.

 A conclusão dos cientistas é que os estudantes de hoje confiam demais
 nas máquinas. Em princípio, esse comportamento faz sentido, porque os
 sistemas de buscas oferecem conteúdos cada vez mais relevantes. Mas
 gera uma efeito colateral preocupante: a perda da capacidade crítica.
 "Precisamos ensinar os alunos a avaliar a credibilidade das fontes
 on-line antes de confiar nelas cegamente", diz Bing Pan, pesquisador
 da Universidade de Charleston. "As escolas deveriam ajudar os
 estudantes a julgar melhor as informações."

 O cenário descrito pela pesquisa não é exclusivo dos estudantes
 americanos. O paulistano Leonardo Castro, de 15 anos, estudante do 1º
 ano do ensino médio da escola Arquidiocesano, em São Paulo, diz que
 usa a internet para fazer 80% de seus trabalhos escolares. A fórmula
 se repete a cada trabalho: ele acessa o Google, insere o tema da
 pesquisa, consulta dois ou três sites que tratam da mesma coisa e
 redige seu texto. "Dou preferência aos resultados que estão na
 primeira página", afirma. Ele tem algumas fontes que considera mais
 confiáveis, como o site Brasil Escola. Conta que os professores
 incentivam o uso da internet nas pesquisas e alguns sugerem sites
 específicos que os alunos deveriam visitar. Mas Leonardo só se
 preocupa com as fontes de informação na hora de relacionar as
 referências usadas na pesquisa - algo diferente de olhar criticamente
 a informação antes de usá-la no trabalho.

 A vestibulanda Clarice Araújo, de 18 anos, estuda no Imaculada
 Conceição, colégio tradicional de Belo Horizonte. Desde o 5º ano do
 ensino fundamental, ela usa a internet como principal ferramenta para
 ajudar nas lições. Os buscadores também se tornaram aliados em sua
 preparação para o vestibular e para a última prova do Enem. Clarice
 acertou 90% das questões, uma boa marca para quem pretende cursar
 medicina na Universidade Federal de Minas Gerais. Segundo ela, a
 maioria dos professores do colégio incentiva o uso da internet e
 sugere os melhores sites para pesquisar. "Já tomei um puxão de orelha
 por ter me baseado em apenas um site", diz Clarice. "Sei que deveria
 verificar a origem das informações, mas, na maioria das vezes, uso só
 o bom-senso." Os professores contam que a maioria dos estudantes não
 faz nem isso. Eles simplesmente copiam (com algumas palavras trocadas)
 informações que aparecem nas primeiras respostas do Google. É uma
 maneira muito limitada de usar a rica fonte de informações que é a
 internet. O caminho para evitar isso é o mesmo que se requer em
 qualquer outra disciplina: orientação e acompanhamento.

 "O professor pode indicar alguns sites mais confiáveis para a pesquisa
 na hora de pedir um trabalho", diz Adilson Garcia, diretor da escola
 Vértice, de São Paulo. Só isso, porém, pode não ser suficiente para
 formar alunos capazes de pesquisar de maneira crítica, criativa e
 independente. Primeiro, é preciso lhes mostrar como funcionam os
 mecanismos de busca. Eles devem entender que critérios esses serviços
 usam para hierarquizar suas respostas. Sabendo como os buscadores
 operam, podem restringir as buscas e obter resultados mais precisos.
 Em segundo lugar, os estudantes têm de aprender a verificar a
 procedência da informação, analisando em que tipo de site ela está
 publicada e se é confiável. O Google não escolhe suas respostas com
 base na veracidade ou qualidade do conteúdo. Por fim, os estudantes
 devem ser incentivados a confrontar a mesma informação em diferentes
 sites, para perceber como a orientação de cada um pode resultar em
 abordagens diferentes. "É preciso transformar os alunos em críticos da
 informação", afirma a professora Maria Elisabeth Almeida, coordenadora
 do programa de pós-graduação em educação da Pontifícia Universidade
 Católica de São Paulo. "Esse não é um desafio apenas das escolas do
 Brasil. É um problema mundial."

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