O objetivo do estudo, realizado no Instituto de Psicologia
da USP, era investigar o sentido que as crianças atribuem à escola
e quais suas motivações para irem até o local de ensino.
As informações da Agência USP.
Para a pesquisadora, as atividades realizadas pelas instituições não condizem
com a visão que seus alunos têm, o que faz com que, num primeiro
momento, elas percam seu sentido.
Deste modo, a formação desejada acaba ocorrendo por
intermédio de outros fatores.
Flávia afirma ainda que o modelo escolar brasileiro
é muito antigo e tradicional.
- Nem sempre a forma com que o conteúdo é trabalhado
reflete as necessidades das crianças ou adolescentes.
Não é que elas não se interessam, é o jeito que é passado
que as deixa distante de suas realidades.
Para o estudo, orientado pela professora Marilene
Proença Rebello de Souza, a psicóloga passou
um ano junto a uma sala da quarta série do ensino
fundamental de uma escola pública municipal de São Paulo.
Flávia explica que, nesse ano, as crianças
já estão no fim de um ciclo escolar e possuem capacidade para
fazer uma análise de seu ambiente de estudo.
Neste período, a pesquisadora observou o cotidiano das crianças,
criou situações orientadas de aprendizagem, realizou atividades
em grupo para que os alunos pudessem falar sobre o tema
por meio de brincadeiras e, por fim, fez entrevistas individuais
com a professora e algumas crianças.
Das conclusões obtidas, Flávia surpreendeu-se com a importância
dos vínculos de amizade. Segundo ela, o papel dos amigos é muito
forte e eles são um motivo para ir à escola, o que acaba entrando em
contradição com o método utilizado.
- As crianças chegam, têm de sentar separadas dos amigos,
não podem conversar.
Ou seja, não se incentiva esse vínculo, é tudo muito individual.
Na escola, as características próprias da criança não são aproveitadas,
elas não aprendem a trabalhar em grupo.
A psicóloga destaca ainda a importância do professor no processo
de formação escolar e nos motivos da aprendizagem.
Para ela, são eles que fazem com que os alunos verdadeiramente
aprendam e que os auxiliam a perceber a importância daquele
ambiente e do conteúdo.
- Um dos grandes desafios do professor é saber como criar
ou lidar com ações que produzam esses motivos pra aprender.
Flávia acrescenta que a própria estrutura das escolas públicas
acaba fazendo o trabalho dos docentes perder a prática pedagógica:
a organização é burocrática, os professores são mal remunerados e,
por isso, precisam fazer muitos turnos, as turmas têm muitos alunos
(o que dificulta o cuidado individual), um professor não conhece
o trabalho do outro.
Deste modo, a pesquisadora acredita ser necessário mudar um
pouco a cultura escolar, pois a escola e os professores precisam
saber como olhar para as crianças para realizarem a prática pedagógica.