"Eduquemos as crianças, e não será necessário castigar os homens" - Pitágoras

sábado, 13 de junho de 2009

Jovens são as principais vítimas do consumismo




Necessidades pessoais deles estão vinculadas à imagem ou à marca


Vivemos em uma sociedade “ideologizada” pelo consumo, sendo os jovens, provavelmente, os principais alvos desse apelo massificado. Pensando nisso, através de uma pesquisa que serviu de base para a elaboração de sua tese de doutorado, defendida na faculdade de Serviço Social, Tatiane Alves Baptista apresentou essa juventude como uma categoria social e, portanto, sujeita às categorias de alienação, fetichismo de mercado, indústria cultural e ideologia. Ela abordou, de forma mais enfática, como se dão esses efeitos sobre os jovens que vivem em um contexto de pobreza. Na pesquisa, realizou uma série de entrevistas com moradores da Mangueira, comunidade localizada nos arredores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.


Em seu texto, utiliza bastante a obra de Karl Marx, como referência teórica, apontando, por exemplo, um suposto conformismo social frente às reformas neoliberais e a constituição da sociedade nos princípios da propriedade privada, produzindo/reproduzindo relações sociais igualmente alienadas. Tudo isso dá ao Estado uma condição de falsa universalidade, uma representação distorcida. Segundo a autora, vivemos em uma sociedade “ideologizada” pelo consumo. “Essa idéia é fértil para entender o consumismo, a expectativa de felicidade no consumo, o consumo fetichizado e de apelo massificado através dos mecanismos da indústria cultural e que são produtos que denotam e conotam a ideologia e a estética dominante”, escreve.


A intensa massificação das campanhas publicitárias para promover o consumo acaba, segundo ela, contribuindo para a homogeneização dos indivíduos, o que explica seu conformismo frente às reformas neoliberais. Para explicar melhor essa situação, ela cita Leandro Konder: “as mercadorias parecem ter vida própria, dão a impressão de se moverem por si mesmas. A própria linguagem cotidiana reforça o condicionamento, quando nos leva a dizer: o pão subiu, a manteiga baixou, o açúcar sumiu, o leite melhorou, os fósforos pioraram etc...”.
E como se daria a efetivação da demanda de consumo entre os jovens pobres? Para responder a isso, a autora explicita que a maioria busca uma realização e um status social que dinheiro nenhum pode comprar. Por tabela, segundo ela, acabam também motivados à compra, desenvolvendo o desejo da posse. Como exemplo, Tatiana mostra que, muitas vezes, a “moda” vai buscar inspiração no conteúdo de movimentos gerados por esses jovens, como o funk e o hip-hop, apresentando-os como algo inovador, incentivando, desse modo, o consumo dos produtos que, geralmente, são caros e inacessíveis a seus inspiradores.


Tatiana explica que a relação entre consumo e violência foi percebida, ao longo da pesquisa, através de todos os relatos. Para ela, todos os entrevistados narraram diferentes casos de roubo, tráfico de drogas e assaltos impulsionados pelo desejo de comprar e de ter.
A autora esclarece que o determinante de toda essa conflituosa relação não é o consumo em si, mas a histórica desigualdade social a que esses jovens estão submetidos. Ela elucida que um país que não propõe reformas estruturais à sua base de apoio, mostrando-se incapaz de satisfazer as necessidades básicas de qualquer cidadão, terá de enfrentar graves problemas ao inserir-se tardiamente no mundo globalizado e movido pelo consumo. Dentre esses problemas estão “ações violentas tanto por parte dessa juventude quanto por parte do Estado, aumento da frustração do indivíduo social, recrutamento de jovens de comunidades pobres para o tráfico de drogas e de armas, entre outros”, diz.
Na conclusão, Tatiane Alves Baptista defende que tais condições têm suas raízes na forma social assumida pelo trabalho na sociedade capitalista. Segundo ela, o consumo é capaz de mascarar essa desigualdade, criando um processo de falsa harmonia e de falso equilíbrio social."

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial